A creche da tia Marlene

A casa da creche era de madeira. A dona da creche era a "tia" Marlene. Me lembro bem do cheiro daquele lugar, era de sopa... Quando ficávamos na sala a televisão era ligada no SBT, passava o comercial de um pirulito que vinha com uma hélice pra gente brincar, a música era " pirulito que bate bate, pirulito que já bateu, quem gosta de mim é ela, quem gosta dela sou eu", lembro de assistir o desenho do Ligeirinho no programa do Bozo. Havia um bebê na cadeirinha do papá que sempre que eu podia eu beliscava ele escondido, tinha raiva dele, de repente por ciúmes. Uma vez, num dia das crianças um dos meus coleguinhas de creche ganhou uma gaita colorida na hora em que a mãe dele foi buscá-lo, naquele momento eu achei aquela sanfoninha a coisa mais linda do mundo, era da turma da Mônica. Me lembro que a tia Marlene se deitava na rede e as crianças ficavam todas ao seu redor conversando com ela, menos eu... Naquela época eu acreditava que o coelho da Páscoa vinha do céu, porque no dia da Páscoa o céu estava lindo, com nuvens cor-de-rosa visto do pátio da casa da creche. Eu tinha uma colega que se chamava Clarissa e pra mim era o nome mais lindo de todos. Certa vez na hora da janta foi servido sopa pra nós, mas eu enrolei tanto pra comer que ficou fria e me deu dor de barriga enquanto eu comia. As raízes dos meus cabelos se erguiam num arrepio por conta da dor, mas comi tudo e fui levada ao banheiro pela filha da tia... Ao lado da casa da creche morava minha primeira amiga de infância, a Elisandra, eu amava brincar com ela, era muito diferente de mim, tinha modos delicados, parecia uma boneca e não era egoísta com seus brinquedos como a maioria que conheci. Numa das vezes que meu irmão me buscou na creche eu perdi minha boneca nova no meio do caminho, ele voltou quando eu percebi que havia perdido mas não a encontramos mais, foi a minha primeira grande perda.

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