“Sonhos de virgem”, de Casimiro de Abreu




Que sonhas, virgem, nos sonhos
Que à mente te vêm risonhos
Na primavera inda em flor?
No celeste devaneio

No doce bater do seio,
Que sonha, virgem? — amor?

Que céus, que jardins, que flores,
Que longos cantos de amores
Nos lindos sonhos te vêm?
E quando a mente delira,
E quando o peito suspira,
Suspira o peito — por quem?

Sonhando mesmo acordada,
Pendida a fronte adorada
Num cismar vago e sem fim;
Do olhar o fogo tão vivo,
A voz, o riso lascivo,
O pensamento é — por mim?

Quando tu dormes tranquila,
Cerrada a negra pupila
E o lábio doce a sorrir;
Então o sonho dourado
Nas dobras do cortinado
Vem esmaltar teu dormir.

Oh! Sonha! — Feliz idade
Das rosas da virgindade,
Dos sonhos do coração!
— Puro vergel de açucenas
Ou lago d’aguas serenas
Que estremece à viração

Feliz! Feliz quem pudera
Colher-te na primavera
De galas rica e louçã!
Feliz, ho! flor dos amores.
Quem te beber os odores
Nos orvalhos da manhã!


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