Meu guerreiro Davi

Estava eu com sete meses e meio de gestação e diabetes gestacional descontrolada, não por falta de medicamento mas por compulsão por doces, talvez por ter-me sido proibido... Quando numa noite de sábado me despedi do Paulinho pois ele ia fazer uma excursão pro interior levando um bando de adolescentes prum show de rock metal de má qualidade. Na despedida eu disse pra ele que estava viajando e ia perder de assistir o parto do Davi, que nasceria naquela madrugada, ele riu e me disse que eu estava louca, era muito cedo pro Davi nascer... Pois então... Fui me deitar depois que a Paulinha dormiu e acordei com cólica, sem contrações, fui ao banheiro e vi que sangrava muito. Liguei pra Júlia, minha comadre, pedi que me levasse ao Hospital, isso que ela tinha se deitado tarde pois arrumava tudo pro domingo de aniversário da Yasmin, minha afilhada. Chegando lá, um tal de dr Jorge Amaral, obstetra, me judiou o que podia e o que não podia pra no fim me dizer que ainda não estava na hora, comentou também que a minha procura por médicos pra fazer uma cesárea era bobagem pois eu tinha uma "bacia boa pra parir", mas se eu quisesse ele faria o parto por oito mil reais, Deus me livre um médico cavalo daqueles abrir minha barriga! Chegando em casa, ainda sangrando fui me deitar novamente, até que minha bolsa estourou e chamei minha mãe pelo celular, ela dormia no quarto ao lado, mas achei melhor não gritar, por medo de esvaziar a bolsa rápido. Minha mãe ligou pro meu pai que morava longe daqui, pedindo que me levasse ao hospital, então continuei deitada esperando bem quieta pra dar tempo do pai chegar e segurar um pouco da água... Perto do momento em que ele chegou eu me levantei e fui até o banheiro me sentar, não sei porquê fui até lá, mas de lá a mãe me pediu pra levantar e eu não conseguia, pois sentia o Davi no "nascedouro", parecia que ia escorregar por entre minhas pernas, pior que ia! O pai chegando, fizeram eu me levantar e quando cheguei na porta de casa senti um empurrão, era o Davizinho anunciando que não queria esperar muito pra nascer. Perdi a respiração, o fôlego, qualquer força, mas continuaram me arrastando, o pai e a mãe, coitadinhos! Chegando no monza eu pedi pra mãe quase sussurrando que deitasse o banco rápido, a mãe tirou meu short e eu gritei, mas gritei tão alto que perdi o resto das forças que eu tinha... Davi veio, sem contrações, com apenas a queimação, a ardência da pele que se rompeu na hora do nascimento do meu guerreirinho. E a luz da minha vida, minha mãezinha amada amparou, fez o parto, ajudou ele e o libertou das duas circulares no pescoço, trabalhamos juntas, minhas mãos e as dela, um cordão apertado que arrochou a cabecinha dele. Chegando no hospital, uma técnica de enfermagem o atendeu imediatamente, pois no caminho massageávamos as costinhas dele pra que respirasse direito e nada, só respirou quando eu pus os dedos na garganta dele que estava obstruida, a técnica enrolou o Davi e levou ele pra dentro do HCI, logo em seguida me tiraram do carro, carregada, pois não tinha força nenhuma, entre o carro e a maca espatifou-se a placenta, escorria no chão rios de sangue, com o qual minha mãe e o monza ficaram encharcados... Davi precisou de apenas um dia no oxigênio pra aprender a respirar, logo foi pro quarto comigo e foi pra fototerapia pra curar o amarelão. Em oito dias já estávamos em casa e uma nova rotina na minha vida se estabeleceu.

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